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Pôrra, esse foi dos fortes!
Parece um velho clichê, eu parado no quarto olhando pela janela, chuva
forte, raios, trovões...
A cada clarão de um relâmpago vejo o meu reflexo na vidraça, vejo o meu rosto debochado, as rugas nos meus
olhos, na minha face, é incrível... o meu olhar continua o mesmo. A primeira
vez que vi esse olhar, foi numa fotografia de bebê, na qual eu devia ter menos
de um ano de idade, e lá estava o mesmo olhar, fixo, perdido... o olhar de quem
quer estar sempre onde não está.
Mas...
Muitos relâmpagos, sempre gostei de ventos e tempestades...
Não sei o porquê, mas uma angústia, uma tristeza e de certa forma
isso até me alegra, me invade a alma, me traz lembranças de uma época em que eu jurava
que não chegaria até aqui...
Lembranças do que fui e principalmente de tudo que não fui... Eh, nisso
eu fui bom, em não ser.
Não fui um bom filho, não fui um bom amigo, não fui um bom namorado,
não fui um bom marido, não fui um bom amante, não fui um ótimo piloto de
helicópteros, não fui um grande pesquisador, na verdade nisso fui bom, em não
ser nem um pequeno pesquisador, mas entre as coisas que não fui percebo hoje
com a idade avançada, que fui muito bom em não ser pai, poupei alguém que nem
conheci, de ter visitas rotineiras ao psicólogo ou quem sabe ao psiquiatra, o
problema é que ninguém sabe disso...
A dualidade
sempre esteve ao meu lado, o sim e o não, o riso e o choro, a alegria e a
tristeza, era o amigo amável e o oponente odioso, sempre duo, capaz de um toque
suave mas com uma imensa carga de perversão... esta então era uma companheira
extremamente prazerosa, um amante pervertido, combinação atraente e
assustadora. Carrego comigo , um enorme orgulho de tudo que fiz e só lamento o que eu
não tive ousadia de fazer.
É estranho... Não sei há quanto tempo estou aqui parado em pé neste quarto
vendo minha vida passar ante aos meus olhos em forma de lembranças ou ilusões
de um cérebro cansado, como miragens no deserto... mas a cada relâmpago percebo
no reflexo do vidro uma pessoa parada no fundo quarto a me olhar atentamente, sabe
depois de um tempo o meu maior orgulho, que era uma visão privilegiada me
abandonou... Não sei quem é, e nem sei se é alguém...
Só sinto que está a me olhar apiedando-se do seu velho e cansado amigo.
Sinto que sempre me acompanhara por onde fui, reconheço em sua energia
a mesma força que me alertava de perigos que nunca aconteceram, pois nunca
deixei de seguir seus conselhos... a mesma energia que expunha pra mim segredos
da vida de pessoas que eu nem conhecia.. o mesmo de sempre. Hoje ele parece me esperar, calma e pacientemente.
“É meu querido, não achas que o seguirei tão fácil, né?”
Alex Huche
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