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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Prospecção

Imagem do site pontodopowerpoint.com

Pôrra, esse foi dos fortes!
Parece um velho clichê, eu parado no quarto olhando pela janela, chuva forte, raios, trovões...
A cada clarão de um relâmpago vejo o meu reflexo na vidraça, vejo  o meu rosto debochado, as rugas nos meus olhos, na minha face, é incrível... o meu olhar continua o mesmo. A primeira vez que vi esse olhar, foi numa fotografia de bebê, na qual eu devia ter menos de um ano de idade, e lá estava o mesmo olhar, fixo, perdido... o olhar de quem quer estar sempre onde não está.
Mas...
Muitos relâmpagos, sempre gostei de ventos e tempestades...
Não sei o porquê, mas uma angústia, uma tristeza e de certa forma isso até me alegra, me invade a alma, me traz lembranças de uma época em que eu jurava que não chegaria até aqui...
Lembranças do que fui e principalmente de tudo que não fui... Eh, nisso eu fui bom, em não ser.
Não fui um bom filho, não fui um bom amigo, não fui um bom namorado, não fui um bom marido, não fui um bom amante, não fui um ótimo piloto de helicópteros, não fui um grande pesquisador, na verdade nisso fui bom, em não ser nem um pequeno pesquisador, mas entre as coisas que não fui percebo hoje com a idade avançada, que fui muito bom em não ser pai, poupei alguém que nem conheci, de ter visitas rotineiras ao psicólogo ou quem sabe ao psiquiatra, o problema é que ninguém sabe disso...
A dualidade sempre esteve ao meu lado, o sim e o não, o riso e o choro, a alegria e a tristeza, era o amigo amável e o oponente odioso, sempre duo, capaz de um toque suave mas com uma imensa carga de perversão... esta então era uma companheira extremamente prazerosa, um amante pervertido, combinação atraente e assustadora. Carrego comigo , um enorme  orgulho de tudo que fiz e só lamento o que eu não tive ousadia de fazer.
É estranho... Não sei há quanto tempo estou aqui parado em pé neste quarto vendo minha vida passar ante aos meus olhos em forma de lembranças ou ilusões de um cérebro cansado, como miragens no deserto... mas a cada relâmpago percebo no reflexo do vidro uma pessoa parada no fundo quarto a me olhar atentamente, sabe depois de um tempo o meu maior orgulho, que era uma visão privilegiada me abandonou... Não sei quem é, e nem sei se é alguém...
Só sinto que está a me olhar apiedando-se do seu velho e cansado amigo.
Sinto que sempre me acompanhara por onde fui, reconheço em sua energia a mesma força que me alertava de perigos que nunca aconteceram, pois nunca deixei de seguir seus conselhos... a mesma energia que expunha pra mim segredos da vida de pessoas que eu nem conhecia.. o mesmo de sempre. Hoje ele parece me esperar, calma e pacientemente.
“É meu querido, não achas que o seguirei tão fácil, né?” 

Alex Huche

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