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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vida de Amélia

Foto do site universonosdois.wordpress.com
Às vezes me pergunto o porquê que eu casei.
Chego em casa tarde, tudo revirado, roupas dos filhos pelo chão, na verdade, parece que todas as nossas roupas estão bagunçadas, são pratos sujos na pia, panelas amontoadas para serem lavadas. Eu te pergunto:
 -Para serem lavadas por quem?
Por mim, é claro... nossa, não acredito, é controle remoto pelo sofá, livros sobre a mesa de jantar, tudo uma zona só.
Onde será que está a vassoura?
Ah é claro, essa é a única que não sai do seu lugar, ai Meu Deus, não sei o porquê que eu saí da casa da minha mãe. Isso está me matando, fico cada vez mais frágil.
Já não tenho tempo para mim, é tudo eu.
Vou abrir uma cerveja para tomar coragem de começar mais uma segunda jornada de trabalho na minha vida, a Faxina.
Hum, só uma cerva gelada para animar.
Sabe, acho que vou tomar mais uma e depois outra e outra, aí sim começo a por tudo em ordem.
Comecei pela sala, arrumei a estante, depois a mesa, pus os controles nos seus lugares;
Essa já é a quarta e ultima cerveja, deixa eu ver... Ah essa nunca me falta, vem cá Vodka querida... Puta que pariu como podem ser tão bagunceiros?
Vou ajeitar o quarto, trocar os lençóis é pensando bem, eu vou tirar um cochilo, daqui a pouco termino tudo.
Pensando bem eu vou à rua, vou deixar um bilhete para quando chegarem:
“Queridos não aguento mais, é muita pressão em cima de mim, não tenho tempo para mais nada na minha vida, não tenho tempo para cuidar de mim, meus cabelos estão horríveis, minha pele desidratada, definitivamente, não aguento mais! Preciso reencontrar o prazer de ser o pai de vocês e seu Marido.”

Alex Huche

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Todo Dia - Parte I


Imagem do site: personaleasy.com  Rebolado de Agatha

- E aí, minha nega? Bom dia pra você! Já está amanhecendo e ninguém desceu, putz estou com fome.
- Calma, eles já vêm.
- Opa, ouviu?
- Ouvi. Eles estão vindo.
- Aposto que é o pai.
- Eu acho que é a mãe ou a Poli.
- Ó pelo som na escada é meu pai, hein.
- É ele... Mas você precisa rebolar esse rabo desse jeito?
- Ah é legal, tu gosta de ver, né? Só porque no seu caso é o rabo que te rebola, você vem me criticar... Opa, ó eu aqui, oba carinho na orelha, putz isso é bom.
- Sai pra lá... E eu? Aí isso, hum... chega, quero comer, vamos, vamos...
- Porra, não empurra.
- Ah, tu fica no caminho.
- O que foi que ele disse? Não ouvi.
- Ele disse: “blá blá blá quer papá?” Como respondemos que queremos? Não sei falar a língua deles, eles são muito esquisitos, conversam como se soubessemos o que dizem.
- Hum, eu quero...  É só pular, pula que ele entende. Pula caralho!
- Não consigo porra, minhas pernas doem! Ah, vou rebolar mais... tá dando certo ele está abrindo a porta, porra para de rir de mim.
- Isso abre a vasilha, adoro esse som da comida caindo na tijela.
- Porra esse puto faz a gente sentar antes de dar a comida. Que merda é essa, tortura?...
- Hum, que delícia.
- Argh, toda vez tem uma capsula branca na minha comida, que nojo.
- É remédio se não quiser deixa aí que eu como.
- Você come até pedra.
- Nem vou dizer o que você come.
- Agora vou lá fora dar uma esticada e fazer um cocozinho. Você vem?
- Claro, ficamos a noite toda sem fazer nada.
- Aiai, pra ser melhor, é só ele abrir essa piscina pra nós. Não é não?
- Nem ligo... Ai sai, porra que mania de ficar trepando em cima de mim. Vai caçar uma cadela!
- Mas só tem você aqui comigo... Logo, logo eles vão entrar naquele caixote preto e só vão voltar quando anoitecer... Eba, Mãe! Ó eu!
- Não, ó eu, ele é chato... Aí, pára de pular em mim. Ouviu o que ela disse?
- Ouvi, é sempre isso: “Bebê!.... Blá blá blá desce Hermes, deixa Ela!”

Alex Huche

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Lembranças do Velho Hermídio - Parte I


Imagem do blog: curitibanoroqueiro.blogspot.com


Pelo o que me lembro, era muito difícil a vida de um menino nos idos de 80.
Nossa, isso foi há tanto tempo atrás, quase 60 anos.
Ah o tempo, esse me deu e tomou tudo na minha vida...
Mas como eu dizia, ser menino nessa época era algo extremamente difícil, pelo menos para mim, jovem desprovido de atrativos de beleza e vivendo no subúrbio do Rio de Janeiro, onde reinava a hipocrisia, onde carolas frequentavam de centros de “macumba”; Virgens que preferiam manter sua castidade praticando sexo anal; E os laços familiares, esses já se mostravam frágeis naquela época.
Sei que vão dizer: “E a vida das meninas não era difícil, não?”
Ser menina era mais fácil naquele tempo do que é hoje. As meninas eram muito mais passivas, esperavam a “ideia” dos rapazes, durante as músicas lentas, apesar de terem que aturar os meninos suados, pois o momento tão esperado por todos, a hora do “mela cueca” só vinha depois de muito rock’n roll, sem falar no cheiro de Rexona, no meu caso era a Colônia de Alfazema mesmo, era da minha avó... ê vida difícil. Nunca entendi o porquê que nas festinhas não tinham só o “mela cueca”.
Lembro-me que ao seguir para as “festinhas americanas” eu seguia como um grande guerreiro segue para uma batalha, confiante e traçando mentalmente todo o gestual e argumentos a convencer a presa a se entregar sem muita exitação... Mentalmente tive conversas fantásticas com as meninas onde havia toda uma trama imbricada de perguntas e respostas era floreada ao som de Barry White, Bee Gees, Lionel Richie e tantos outros cúmplices passivos das minhas aventuras de conquistas. O plano estava traçado e não tinha como dar errado, a não ser pela mão suada, a voz trêmula, um “Alien” a revirar meu estômago e a porra da menina que nunca respondia ou dizia o que estava previsto em meu roteiro mental... Como era possível que elas estragassem todo o tempo desperdiçado naquele jogo de damas, cujo objetivo era óbvio, conquistar seus corações, ou o maior número de nãos possíveis em uma noite, o que viesse primeiro. Como era difícil ser menino na década de 80, entre os meus amigos, eu era escarnecido por nunca ter conquistado uma garota durante as músicas lentas. Minhas experiências sexuais, naquela época insana, vieram dissociadas do amor, da paixão... Aiai... Minhas experiências sexuais vieram antes de eu experimentar os doces lábios de uma mulher, pelo menos nos meus... Aprendi desde cedo, sexo e amor são duas coisas diferentes. Ainda bem que o tempo passa, tudo passa... Que pena que o tempo passa, mas tudo passa.

Alex Huche

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Paradigmas


- Vovô, Por que o papai é assim?
- Assim como?
- Ah, é intransigente, ele não me aceita, não quer entender que eu sou diferente dos demais...
- Você sabe que as coisas são assim, você não é mais criança, sabe que hoje em dia é difícil de se aceitar esse tipo de amor, tem muito preconceito.
- Mas importa tanto assim o sexo da pessoa com quem eu me relaciono? Não tenho que olhar o caráter, o amor, a paixão e o principal.... o tesão que sinto? É tão importante assim o sexo do meu amor?
- Isso vem de muito tempo, há uma carga de preconceito muito grande...
- Mas o senhor não tem preconceito.
- Veja bem, quando eu nasci, eu tinha um pai e uma mãe carinhosos, que me deram atenção, eu aprendi com eles, que o importante era que fossemos felizes da melhor maneira que pudéssemos. Só isso deveria bastar... Meus pais eram muito felizes, até que... Até que minha mãe faleceu daquela maldita doença, muita gente sexualmente ativa morreu naquela época, isso nos impôs uma nova maneira de ver a vida tivemos que repensar nossas atitudes e só como vivemos hoje, pudemos contornar esta fatídica doença.
- Mas vovô, há anos essa doença está erradicada, ninguém mais ficou doente.
- Eu sei, mas essas mudanças nos trouxeram essa restrição quanto as formas de amar e a quem amar, hoje, somos assim. Não se admite nada diferente do que já foi estabelecido. Antigamente, havia muito mais liberdade, havia paradas nas ruas para combater toda forma de preconceitos, as pessoas já estavam aceitando muito melhor as características uma das outras.
- Mas isso é uma estupidez.
- Eu também acho, mas as coisas são como são. Seus pais querem o melhor pra você.
- Mas o melhor para mim é estar com quem eu amo.
- Eu entendo, mas sou de outra época, seus pais, não... Logo, logo, você vai encontrar a pessoa certa para você, uma pessoa que esteja dentro dos padrões. Por que você quer impor esse amor com tanta rebeldia? Assim você só magoa o seu pai...
- O senhor acredita que ele teve a coragem de dizer na minha cara que preferia que eu fosse para igreja? Logo ele, Ateu convicto, e veio me dizer que preferia que eu fosse para uma igreja... 
- É,  eu sei que é muito difícil, eu entendo que você está passando por muita pressão, mas é tão difícil renegar esse desejo?
- Pra mim é... para mim é impossível fingir que não sinto o que eu sinto, por mais estranho e bizarro, isso possa parecer.
- Quando seus pais lhe adotaram, eles lhe deram uma educação exemplar, não deixaram que nada lhe faltasse, eles queriam que você tivesse uma vida feliz, livre de qualquer sofrimento... Na verdade é só isso que eles temem, o seu sofrimento.
- Ninguém está livre de sofrer, faz parte da vida... Vovô, eu amo o Claudio.
- Mas você sabe que as pessoas vão falar, você sabe o mundo não perdoa...
- E por isso tenho que me negar?
- Tá bom Rita eu converso com seus pais, não sei se Rodolfo e Rogério vão aceitar seu amor, afinal, você é a filhinha querida deles e é quase impossível ser heterossexual nos dias de hoje, mas vou lhe ajudar.

Alex Huche

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Fura Olho

Imagem do blog neuzin.blogspot.com

Tudo era perfeito,ele era um cara muito especial, a admirava, a cobiçava e era sempre muito bem humorado.
Renata o conheceu por intermédio de Claudia, uma amiga de infância e que encontrava sempre quando ia passar uma temporada na casa da sua avó.
Marcos se empenhou de todas as formas para conquistar seu coração, até que por fim conseguiu o que tanto esperava... Renata se apaixonou... Ela se apaixonou tão profundamente que nada iria impedi-la de viver esse amor. E se entregou como nunca se entregara antes.
Mas nada é tão perfeito nessa vida.

- Renata, estou completamente apaixonado por você...
- Eu também, toda vez que nos falamos, fico ansiosa para podermos nos encontrar...
- Pois é, mas tem uma coisa que preciso te dizer...
- É? Mas me beija enquanto você me fala...
- Calma aí, é sério...
- Tá diz.
- Eu sou Noivo.
- Mas... Por que você nunca me disse nada?
- Porque eu não esperava me envolver tanto.
- Muito tempo que vocês estão juntos?
- Há uns dois anos, Ana e eu somos muito diferentes.
- Você a ama?
- Não sei, mas também não quero ficar sem você.
- Nada mais me importa, quero é curtir você... Me beija...

Despediram-se  e Renata  partiu para a casa da sua amiga Claudia, pois precisava desabafar.
Ao chegar na casa da amiga, a encontrou sentada na varanda e revelou-lhe o segredo que guardava há um tempo:

- Claudia, estou saindo com o Marcos, nossa ele é maravilhoso, tão divertido, carinhoso... Foi a melhor coisa que aconteceu foi você ter nos apresentado...
- Mas Renata, você sabe que ele tem namorada?
- Ah, eu sei, ele falou de uma tal de Ana... Quer saber, não estou nem aí, vou é curtir.
- Fala baixo! Como você pode fazer isso, sabendo que ele já tem outra pessoa?
- Ih, o que há com você?... Ficou careta agora?
- Não, isso é diferente...
- Ah tá bom! Já vi que foi um erro vir aqui falar com você, não vim para ser criticada.
- Renata!... Tá vai... Tchau,  sua mal educada!

Vivia um romance quase perfeito, a não ser pela eterna suspeita de que Marcos pudesse estar fazendo a mesma coisa com ela. Tantas discussões bobas por ciúmes. Até que um dia conheceu pela sua rede social uma jovem, muito linda, de uma sensualidade ímpar, daquelas que parece não ter problemas de autoestima e nem de carência emocional por causa de homens. Seu nome era Mara.
Mara, por diversas vezes se mostrou lhe descrevia suas aventuras amorosas com rapazes e com outras moças, e isso atraía bastante as atenções de Renata, a ponto de não se reconhecer diante desses fatos.
Renata se via cada vez mais interessada nas história de Mara e fez dela sua confidente.
Certa vez, brigara com Marcos e buscou a amiga na internet, que no fim do dia foi até a sua casa para lhe consolar.

- Renata, você não pode deixar que seus problemas com o seu namorado lhe abale...
- Ah mais é difícil pra mim... Pra você pode ser fácil, toda linda, coxão, peitão, inteligente, sensual... é pra você é diferente.
- Você acha?
- Acho, se eu fosse homem eu iria querer pegar você...
- Mas quem disse que precisa ser homem para sair comigo.
 - Ah sei lá...
- Vem cá...
- Não, tá doida... Para... não...
- Só um beijo... Que tal, gostou?... Hum pelo visto gostou muito, vem cá, vem...

Renata, não resistira as investidas da amiga e tiveram uma noite maravilhosa, como há muito tempo não tivera com seu namorado.
Um tempo depois:

- Mara, não paro de pensar em você, estou apaixonada...
- É, mas e seu namorado?
- Terminamos, eu lhe contei tudo, ele nunca mais vai me perdoar. Mas, o que eu quero é ficar com você.
- Comigo, não.
- Por quê?
- Eu não vou namorar a ex namorada do meu ex namorado.
- Como é? A noiva dele era Ana.
- Meu nome é Ana Mara... Quando você foi contar à Claudia que estava saindo com Marcos, eu estava no quarto conversando com a mãe da Claudinha e ouvi tudo o que vocês falaram... Como você acha que o Marcos conheceu a Claudia? Ela é minha amiga há muito tempo...
- Mas e eu?...
- Você, é só uma doce vingança.

Alex Huche

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

No Terceiro Dia


Imagem do site sbprp.blogspot.com


Ato I


Marcos fala com o público.

Marcos – Me lembro de ter subido o morro naquele dia, um dia quente, crianças correndo pra todo lado, mulheres com rolinhos nos cabelos nas portas de casa, Homens armados... Se é que meninos de 17 anos são homens. ...e lá estava ele sentado imponente.

Marcos sobe o morro para falar com seu amigo Marcelo.

Marcelo – Coé, tá fazendo o quê aqui em cima?
Marcos – Sabe que dia é hoje?

Marcelo – Sei, claro, é o nosso aniversário...
Marcos – Pois é ... queria te ver... faz tanto tempo que...
Marcelo – É... o tempo... é muito louco.
Marcos – Já tá chapado?
Marcelo – Só um pouco... cara, lembra quando a gente jogava aquela bola?.. não tinha pra ninguém.
Marcos- Pode crêr... Tu era sinistro... como estão as coisas?
Marcelo – Tamo aí.
Marcos – Já pensou em sair daqui?
Marcelo – Sair daqui?... Aqui sou Rei.
Marcos – Rei que recebe ordens de quem nem está aqui.
Marcelo – E você, trabalhando no asfalto e tomando bronca de otário e tendo que abaixar a cabeça?...vai me dizer que tá indo a igreja?
Marcos – Não, não estou, mas acredito em Deus.
Marcelo – Deus!... esse não passa aqui faz tempo, mas querer o quê?... se até o filho ele deixou na mão... prefiro o meu canhão.
Marcos – E por falar em pai, tem visto o teu?
Marcelo – Putz, não vejo o coroa há um tempão, desde o dia em que ele subiu aqui pra me levar daqui... Pô sabe como é, tô aqui com a maior moral e ele vem aqui e... cara me senti na quinta série, quando os meus pais iam na escola, maior vergonha.
Marcos – E aí?
Marcelo – Pô esculacharam o coroa, botaram ele pra ralar .
Marcos – E você?
Marcelo – O quê que tem?
Marcos – Não fez nada?
Marcelo – Fazer o quê?... já sou homem.
Marcos – Sei... e pensar que você tinha tudo.
Marcelo – Você fala isso porque você não tinha nada, e não sabe o que é ter que ser igual ao seu irmão, melhor que os seus amigos e ver todo mundo ser o máximo... Você não... não tinha nada, nem pai pra te encher o saco.
Marcos – Engraçado você falar nisso, estava com o Márcio falando sobre isso, sobre nós dois, ainda ontem.
Marcelo – Márcio, que Márcio?
Marcos – O Professor Márcio, ele me explicou que existe uma coisa, como é que é mesmo?... É Resi... Resiliência, é quando duas pessoas diferentes reagem as dificuldades da vida, uns são mais resistentes aos problemas.
Marcelo – O Professor Márcio nunca gostou de mim.
Marcos – Não é verdade, ele sempre se preocupou muito com você.
Marcelo – Ele nunca gostou de mim, como eu era, sempre tentou me mudar, aceitar o meu jeito, ele nunca quis.
Marcos – Mas você queria o quê, fazendo tanta besteira?
Marcelo – Ah, eu já entendi, você quer vir aqui e me mudar, também.
Marcos – Por que você não larga as drogas e não sai dessa vida?
Marcelo – Porque, hoje, eu sou eu de verdade.
Marcos – Não acredito nisso, você sempre foi contra as injustiças.
Marcelo – Injustiça é a polícia te esculachar só por você apertar unzinho.
Marcos – Pelo o que vejo, você não usa só maconha, né?
Marcelo – Dois amigos meus, vieram comprar maconha e quando desceram, foram mortos pela polícia, cadê aquele papo de usuário não ser bandido?
Marcos – Você sabe que essas coisas acontecem... larga isso, sai dessa...
Marcelo – Não dá, nem que eu quisesse, meu mundo é aqui.
Marcos – Isso não é o mundo de ninguém.
Marcelo – Lá vem você com esse papo de perdedor.
Marcos – Vamos ver seus pais?
Marcelo – Pô, tu tá chato, hein.
Marcos – Só porque quero salvar um amigo, um irmão?
Marcelo – Quem quer ser salvo?... A vida pra mim, agora é a mais de cem, não quero o teu mundinho.
Marcos – Esperei o dia de hoje, nosso aniversário, pra ajudá-lo a renascer.
Marcelo – Renascer... sei... Quer saber, vai embora daqui, mete o pé, você também não me aceita, não gosta de mim... Vai embora!
Marcos – Eu vou, mas vou voltar, não vou desistir de você.
Marcelo – Tá, Tá bom... Vai continue sonhando em ser Doutor, vai ser escravo lá embaixo.
Marcos – Como se você fosse livre aqui em cima.
Marcelo – Tá fazendo o quê aqui, ainda, Rala!

Marcos – Essa foi a última vez que eu o vi...
Fiquei sabendo que três dias depois, em uma batida da polícia, ele bateu de frente com os homens, parecia não ter nada a perder...
Foi quando o pior aconteceu, ao invés de ser salvo, ele se perdeu de vez...
Dizem que as suas últimas palavras foram: Marcos, agora eu consegui sair.

Por que as coisas na vida têm que ser tão trágicas?...


Vamos mudar tudo!


Marcos – Esperei o dia de hoje, nosso aniversário, pra ajudá-lo a renascer.


Marcelo – Renascer... sei... Quer saber, vai embora daqui, mete o pé, você também não me aceita, não gosta de mim... Vai embora!

Marcos – Eu vou, mas vou voltar, não vou desistir de você.

Marcelo – Tá, Tá bom... Vai continue sonhando em ser Doutor, vai ser escravo lá embaixo.

Marcos – Como se você fosse livre aqui em cima.

Marcelo – Tá fazendo o quê aqui, ainda, Rala!

Marcos – Essa foi a última vez que o vi...
Só sei que três dias depois, sem falar nada com ninguém, ele desceu o morro, voltou para casa e procurou ajuda, se tratou e agora visita centros de reabilitações de drogados, fazendo palestras contra o uso de drogas, e depois de tanto tempo, o estou esperando chegar com o seu filho, ele quer que mostremos juntos o bairro que crescemos...

É assim ficou bem melhor!





Alex Huche

Prospecção

Imagem do site pontodopowerpoint.com

Pôrra, esse foi dos fortes!
Parece um velho clichê, eu parado no quarto olhando pela janela, chuva forte, raios, trovões...
A cada clarão de um relâmpago vejo o meu reflexo na vidraça, vejo  o meu rosto debochado, as rugas nos meus olhos, na minha face, é incrível... o meu olhar continua o mesmo. A primeira vez que vi esse olhar, foi numa fotografia de bebê, na qual eu devia ter menos de um ano de idade, e lá estava o mesmo olhar, fixo, perdido... o olhar de quem quer estar sempre onde não está.
Mas...
Muitos relâmpagos, sempre gostei de ventos e tempestades...
Não sei o porquê, mas uma angústia, uma tristeza e de certa forma isso até me alegra, me invade a alma, me traz lembranças de uma época em que eu jurava que não chegaria até aqui...
Lembranças do que fui e principalmente de tudo que não fui... Eh, nisso eu fui bom, em não ser.
Não fui um bom filho, não fui um bom amigo, não fui um bom namorado, não fui um bom marido, não fui um bom amante, não fui um ótimo piloto de helicópteros, não fui um grande pesquisador, na verdade nisso fui bom, em não ser nem um pequeno pesquisador, mas entre as coisas que não fui percebo hoje com a idade avançada, que fui muito bom em não ser pai, poupei alguém que nem conheci, de ter visitas rotineiras ao psicólogo ou quem sabe ao psiquiatra, o problema é que ninguém sabe disso...
A dualidade sempre esteve ao meu lado, o sim e o não, o riso e o choro, a alegria e a tristeza, era o amigo amável e o oponente odioso, sempre duo, capaz de um toque suave mas com uma imensa carga de perversão... esta então era uma companheira extremamente prazerosa, um amante pervertido, combinação atraente e assustadora. Carrego comigo , um enorme  orgulho de tudo que fiz e só lamento o que eu não tive ousadia de fazer.
É estranho... Não sei há quanto tempo estou aqui parado em pé neste quarto vendo minha vida passar ante aos meus olhos em forma de lembranças ou ilusões de um cérebro cansado, como miragens no deserto... mas a cada relâmpago percebo no reflexo do vidro uma pessoa parada no fundo quarto a me olhar atentamente, sabe depois de um tempo o meu maior orgulho, que era uma visão privilegiada me abandonou... Não sei quem é, e nem sei se é alguém...
Só sinto que está a me olhar apiedando-se do seu velho e cansado amigo.
Sinto que sempre me acompanhara por onde fui, reconheço em sua energia a mesma força que me alertava de perigos que nunca aconteceram, pois nunca deixei de seguir seus conselhos... a mesma energia que expunha pra mim segredos da vida de pessoas que eu nem conhecia.. o mesmo de sempre. Hoje ele parece me esperar, calma e pacientemente.
“É meu querido, não achas que o seguirei tão fácil, né?” 

Alex Huche

sábado, 12 de janeiro de 2013

Verdades e Mentiras

Imagem do Site: http://www.umamulher.com.br


- Nossa! Márcia, você está linda!
- Ai, assim você me deixa sem graça.
- Ah fala sério, você se preparou toda só pra isso e vai ficar sem graça ao perceber que conseguiu chamar minha atenção?
- Gosto de você por ser assim, direto.
- O que quer beber?
-Ah, acho que eu quero um Campary Berry... Ah, eles não fazem.
- Campary Berry...
- É um drin...
- É um drink criado para a Diesel.
- Você conhece?
- Sim eu sei fazer, e tenho todos os ingredientes em casa..
- Hum, Carlos, acho que vou querer... Por ora eu vou querer uma caipirinha de Morango.
- Certo, eu vou querer uma Capirinha.
- Você vem sempre aqui nesse bar?
- Não, na verdade quem gosta de vir aqui é minha esposa.
- É? Ela tem bom gosto, mas você não se incomoda dela vir aqui sem você?
- Ela vem com as amigas.
- E você, onde vai?
- Eu trabalho que nem corno, chego em casa tarde, sabe como é ganhando dinheiro para ela gastar... Mas me conte, o que você faz para se divertir?
-Ah, não sei se quero dizer...
- Diga, o que tem demais, nada me espanta.
- Eu gosto de ir à bares com stripers, tipo clube das mulheres, me excita muito sair com minhas amigas para esses bares...
- E seu marido?
- Claro que ele não sabe, ele pensa que estou em outros lugares com minhas amigas, nem desconfia das coisas que faço, todos temos nossos segredinhos.
- Sei... Sabe, você tem uma coisa que mexe comigo, desde a primeira vez que a vi.
- É? Que bom, costumo causar esse efeito.
- Eu estava pensando... Quer ir lá pra casa?
- Mas, e sua mulher?
- Ela não está lá agora.
- Hum você vai me fazer o drink?
- Claro, e muito mais...
- Hum, adoro seu beijo, suas mãos... ai, safado... ai, vamos.
- Há quanto tempo não sei o que é ficar assim no carro.
- Assim como, bobinho?
- Assim, dando uns amassos enquanto dirijo, minha mulher não gosta... Hum... Ai!
- O que foi?
- Seus dentes me machucaram...
- Mordi mesmo, eu gosto...
- Hum... chegamos.

Ao abrir a porta uma senhora,  que trabalha na casa se aproxima do casal, com um olhar de surpresa e  cansaço.
 - Dona Márcia, o Pedrinho já dormiu e a casa já está em ordem, posso sair um pouco mais cedo?
- Claro, Ruth, pode ir.
- Até amanhã então.
- Tchau.

Do quarto dos fundos da casa ouviu-se:
“Mãe!”
- É querido, acabou a brincadeira...
- É de volta ao mundo real... Amor, eu queria te dizer, que nem tudo que eu te disse hoje é verdade.
- Ah, amor, não esquenta, nem tudo que eu te disse é mentira.
- Hã?

Alex Huche

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Doces Mentiras

Imagem de parejapajarerara.blogspot.com

Como posso me esquecer?
Lembro  de todas as vezes em que você me disse no ouvido palavras doces como o mel ou picantes como as pimentas; sua barba a roçar no meu pescoço, seus beijos, mordidas, sua língua me percorrendo a nuca e sua voz grave nos meus ouvidos a dizer-me o quanto eu o excitava, que somente eu o deixava enlouquecido, isso fazia com que eu me sentisse a mais poderosa das mulheres...
Lembro das vezes em que eu sentada no seu colo, sentia-lhe intumescendo, suas mãos ousadas a me apalpar  e você a me dizer o quanto eu era especial, o quanto eu o fazia sentir-se bem, que eu era a razão do seu viver...
Lembro das noites em claro ao telefone, onde ambos pareciam disputar uma prova de resistência de um reality show imbecil, para ver quem cederia primeiro e desligaria o telefone, e você a me dizer que não conseguia pensar em outra coisa na sua vida, que não fosse eu...
Lembro de como eu me senti feliz, naquela tarde em frente ao mar, o sol se pondo no Arpoador e eu a ouvir você me dizer  que sem mim era impossível viver...
As lembranças do que fomos me ronda as noites a perturbar meu juízo e hoje percebo que não é da sua barba a roçar meu pescoço, não é dos seus beijos, mordidas, sua língua, suas mãos ou eu sentada no seu colo... Não é de nada disso que sinto mais falta.
Do que eu sinto mais falta?
Pergunta!...
Vou dizer assim mesmo. Eu não sabia o que me prendia a você, mas hoje eu sei... Eram as suas mentiras, as mentiras de amor, aquelas que me faziam especial, necessária e a mais linda das mulheres, é disso que eu sinto mais falta.
Eu sei que você não me dirás mais nada disso, até porquê...
Depois que eu jogar a última pá de terra sobre seu corpo, ninguém vai saber que estás aí amarrado e mudo.

Alex Huche

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Marraio, Feridô sou Rei!


Imagem de Gabriel Ferreira

Marraio era um menino sagaz, o melhor das rodadas de bolas de gude, aquele cujo peão batia forte e tirava os oponentes das pequenas arenas circunscritas no chão de terra batida, era aquele que corria lépido    sem ofegar, orgulhava-se de ser o Marraio, apelido herdado dos jogos de gudes coloridas. Pois, ao disputarem quem jogaria a gude para determinar a ordem dos jogadores na disputa, sempre antes dos demais ouvia-se seu brado valente: “Marraio, Feridô Sou Rei!” e assim tirava vantagem de ser o ultimo a se lançar  rumo   a linha do destino dos jogadores, o  que  na  grande  maioria  das  vezes,  lhe  dava  uma  grande   vantagem, chegando a desanimar os oponentes.  Seus amigos diletos eram três meninos e uma menina, Suzana, esta não perdia em nada em relação aos colegas, mas seu fraco era um amor profundo e não correspondido por Marraio;
O tempo passou, Marraio tornou-se um belo rapaz, forte, ágil e sua sagacidade acompanhava a arrogância comum a quem só está acostumado a ganhar, seus amigos mais centrados seguiram caminhos diferentes, pois aprenderam com ele, como a vida dependeria de superações. Quanto a Suzana?...Esta sumira no tempo.
Certa vez os amigos se reuniram em uma festa da cidade, todo mundo se reencontrou, menos Suzana, esta ninguém a vira ainda.
Em meio a tantas belas moças, o espírito de competição, sempre aguçado em  Marraio, lhe fez apontar para uma linda mulher, que tinha pernas torneadas, seios firmes,  suas coxas encerravam-se numa bela bunda, seus cabelos ruivos, emolduravam o belo rosto com lábios grossos e vermelhos, e certo de um sucesso iminente falou aos amigos: “Marraio, feridô sou Rei!” e os amigos seguiram como de costume um a um no intento de conquistar a bela moça. Para seu espanto, o primeiro amigo arrancou da moça, risos e um beijo ardente, mas não mais do que isso e satisfeito, retirou-se dando espaço a tentativa do segundo amigo; o segundo, este passou sufoco com a jovem, mas após uma longa conversa recebeu um belo beijo e se retirou; o terceiro, esse parecia um antigo amigo da moça, pois mal se apresentaram e se beijaram, mas logo em seguida afastou-se; Marraio agora estava certo do seu sucesso, pois levaria aquela linda mulher como o maior de todos os seus troféus, aproximou-se checando se a roupa estava em ordem, arrumou os cabelos e antes que saudasse a moça, uma segunda mulher tão linda quanto o seu alvo, aproximou-se da moça, beijou-lhe e abraçadas se retiraram, mas ao passar ao seu lado, esta moça sussurrou-lhe no ouvido: “Marraio Ferido, sou rainha!”

Alex Huche

Questão de jeito

Imagem de Shutterstock.com

Tudo era uma simples questão de jeito, Ele não sabia até onde poderia chegar com aquela insana vontade, um fogo ardia toda vez que aquela mulher passava a sua frente. Numa tentativa infantil de senti-la mais perto de si, absorvia o ar captando assim a suave fragrância que emanava do corpo dela. Uma sensação inexplicável, um prazer despretensioso, um calor percorria-lhe o  peito. E o olhar?... Ah, o olhar denunciava seus pensamentos mais impuros e inquietantes.
Nunca trocaram uma só palavra, seus olhares quase nunca se encontraram, mas mesmo assim, algo o impelia a fantasias  incondizentes com a postura séria e impoluta daquela bela mulher. E uma voz interior sussurrava-lhe em sua mente: “É tudo uma simples questão de jeito”.
Até que um dia, um leve sorriso o acendeu inteiro, ela sorriu-lhe um sorriso sutil e inocente. Motivo para que suas esperanças se renovassem. Sem pensar, seguiu-a pelo corredor até que enfim, ela parou em frente ao elevador, aí, o que antes era coragem, calor e até mesmo um incomodo dentro da sua calça, agora se transformara,  em frações de segundos, em medo, um frio na alma e se perguntava: “O que está havendo?”  Não pensou duas vezes, parou ao lado dela e com a boca seca passou a analisar os gestos, as roupas, os cabelos... e algo lhe chamou muito a atenção, os pelos dos braços dela, eram grandes, lisos e deitados de lado por todo o braço, algo definitivamente avivava sua libido. Pensou mais uma vez: “É tudo questão de jeito”.  Sua boca entreabriu e se viu tomado por uma sensação de não ter a menor ideia de como agiria em seguida, de quais seriam suas palavras ou até mesmo o que faria com as mãos e quando finalmente se via como um passageiro de sua própria vontade, o elevador chegou e ela entrou. Inacreditavelmente, se viu exitante em dar sequência ao seu intento. Impiedosamente a porta se fechou, e para sua tortura, ainda pôde ver quando ela meneava a cabeça negativamente e passando as mãos pelos cabelos, quase num lamento, e novamente a voz lhe veio a cabeça: ”Tudo é só uma questão de jeito, mas puta que pariu, você não tem o menor jeito!”
Alex Huche