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Pelo o que me lembro, era muito difícil a vida de um menino nos idos
de 80.
Nossa, isso foi há tanto tempo atrás, quase 60 anos.
Ah o tempo, esse me deu e tomou tudo na minha vida...
Mas como eu dizia, ser menino nessa época era algo extremamente difícil,
pelo menos para mim, jovem desprovido de atrativos de beleza e vivendo no
subúrbio do Rio de Janeiro, onde reinava a hipocrisia, onde carolas frequentavam
de centros de “macumba”; Virgens que preferiam manter sua castidade praticando
sexo anal; E os laços familiares, esses já se mostravam frágeis naquela época.
Sei que vão dizer: “E a vida das meninas não era difícil, não?”
Ser menina era mais fácil naquele tempo do que é hoje. As meninas eram
muito mais passivas, esperavam a “ideia” dos rapazes, durante as músicas lentas,
apesar de terem que aturar os meninos suados, pois o momento tão esperado por
todos, a hora do “mela cueca” só vinha depois de muito rock’n roll, sem falar
no cheiro de Rexona, no meu caso era a Colônia de Alfazema mesmo, era da minha
avó... ê vida difícil. Nunca entendi o porquê que nas festinhas não tinham só o
“mela cueca”.
Lembro-me que ao seguir para as “festinhas americanas” eu seguia como
um grande guerreiro segue para uma batalha, confiante e traçando mentalmente
todo o gestual e argumentos a convencer a presa a se entregar sem muita
exitação... Mentalmente tive conversas fantásticas com as meninas onde havia toda
uma trama imbricada de perguntas e respostas era floreada ao som de Barry
White, Bee Gees, Lionel Richie e tantos outros cúmplices passivos das minhas
aventuras de conquistas. O plano estava traçado e não tinha como dar errado, a
não ser pela mão suada, a voz trêmula, um “Alien” a revirar meu estômago e a
porra da menina que nunca respondia ou dizia o que estava previsto em meu
roteiro mental... Como era possível que elas estragassem todo o tempo
desperdiçado naquele jogo de damas, cujo objetivo era óbvio, conquistar seus
corações, ou o maior número de nãos possíveis em uma noite, o que viesse
primeiro. Como era difícil ser menino na década de 80, entre os meus amigos, eu
era escarnecido por nunca ter conquistado uma garota durante as músicas lentas.
Minhas experiências sexuais, naquela época insana, vieram dissociadas do amor,
da paixão... Aiai... Minhas experiências sexuais vieram antes de eu experimentar os
doces lábios de uma mulher, pelo menos nos meus... Aprendi desde cedo, sexo e
amor são duas coisas diferentes. Ainda bem que o tempo passa, tudo passa... Que
pena que o tempo passa, mas tudo passa.
Alex Huche
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