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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Paradigmas


- Vovô, Por que o papai é assim?
- Assim como?
- Ah, é intransigente, ele não me aceita, não quer entender que eu sou diferente dos demais...
- Você sabe que as coisas são assim, você não é mais criança, sabe que hoje em dia é difícil de se aceitar esse tipo de amor, tem muito preconceito.
- Mas importa tanto assim o sexo da pessoa com quem eu me relaciono? Não tenho que olhar o caráter, o amor, a paixão e o principal.... o tesão que sinto? É tão importante assim o sexo do meu amor?
- Isso vem de muito tempo, há uma carga de preconceito muito grande...
- Mas o senhor não tem preconceito.
- Veja bem, quando eu nasci, eu tinha um pai e uma mãe carinhosos, que me deram atenção, eu aprendi com eles, que o importante era que fossemos felizes da melhor maneira que pudéssemos. Só isso deveria bastar... Meus pais eram muito felizes, até que... Até que minha mãe faleceu daquela maldita doença, muita gente sexualmente ativa morreu naquela época, isso nos impôs uma nova maneira de ver a vida tivemos que repensar nossas atitudes e só como vivemos hoje, pudemos contornar esta fatídica doença.
- Mas vovô, há anos essa doença está erradicada, ninguém mais ficou doente.
- Eu sei, mas essas mudanças nos trouxeram essa restrição quanto as formas de amar e a quem amar, hoje, somos assim. Não se admite nada diferente do que já foi estabelecido. Antigamente, havia muito mais liberdade, havia paradas nas ruas para combater toda forma de preconceitos, as pessoas já estavam aceitando muito melhor as características uma das outras.
- Mas isso é uma estupidez.
- Eu também acho, mas as coisas são como são. Seus pais querem o melhor pra você.
- Mas o melhor para mim é estar com quem eu amo.
- Eu entendo, mas sou de outra época, seus pais, não... Logo, logo, você vai encontrar a pessoa certa para você, uma pessoa que esteja dentro dos padrões. Por que você quer impor esse amor com tanta rebeldia? Assim você só magoa o seu pai...
- O senhor acredita que ele teve a coragem de dizer na minha cara que preferia que eu fosse para igreja? Logo ele, Ateu convicto, e veio me dizer que preferia que eu fosse para uma igreja... 
- É,  eu sei que é muito difícil, eu entendo que você está passando por muita pressão, mas é tão difícil renegar esse desejo?
- Pra mim é... para mim é impossível fingir que não sinto o que eu sinto, por mais estranho e bizarro, isso possa parecer.
- Quando seus pais lhe adotaram, eles lhe deram uma educação exemplar, não deixaram que nada lhe faltasse, eles queriam que você tivesse uma vida feliz, livre de qualquer sofrimento... Na verdade é só isso que eles temem, o seu sofrimento.
- Ninguém está livre de sofrer, faz parte da vida... Vovô, eu amo o Claudio.
- Mas você sabe que as pessoas vão falar, você sabe o mundo não perdoa...
- E por isso tenho que me negar?
- Tá bom Rita eu converso com seus pais, não sei se Rodolfo e Rogério vão aceitar seu amor, afinal, você é a filhinha querida deles e é quase impossível ser heterossexual nos dias de hoje, mas vou lhe ajudar.

Alex Huche

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